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22 de janeiro de 2009

Nova Objectividade

Outros Nomes
Neue Sachlichkeit

Definição
A produção do grupo reunido em torno do que se convencionou chamar Nova Objectividade [Neue Sachlichkeit] deve ser compreendida como um desdobramento da voga expressionista após a 1ª Guerra Mundial, sobretudo do aspecto de crítica social que caracteriza boa parte do expressionismo alemão. Trata-se portanto de uma arte de forte acento realista que recusa as inclinações abstractas defendidas pelo grupo Die Brücke [A Ponte]. O termo é criado em 1923 por Gustav Hartlaub, quando, em carta aos jornais, manifesta a intenção de realizar uma exposição com o título Nova Objectividade, que reunisse obras referidas à 'realidade positiva'. A exposição teria lugar dois anos depois no Kunsthalle de Munique, e dá nome a uma tendência figurativa da arte alemã das décadas de 20 e 30. Menos que um estilo definido ou unificado, as obras expostas em 1925 têm em comum o tom de denúncia e sátira social, a crítica mordaz à sociedade burguesa e à guerra. A dicção contestadora e crítica dessa produção leva à perseguição dos artistas pelo Estado nazista e à dissipação do movimento na década de 30.

O pintor e gravador alemão Otto Dix (1891-1969), ao lado do pintor e desenhista, também alemão, George Grosz (1893-1959), são considerados os dois grandes nomes dessa linhagem expressionista. A obra de Dix mostra a hipocrisia e frivolidade da sociedade berlinense do pós-guerra, como indica o seu tríptico A Grande Cidade (1927-1928) e a representação de personagens socialmente marginalizados, por exemplo prostitutas e trabalhadores. À condenação moral da sociedade burguesa decadente soma-se a desilusão diante dos horrores da guerra, que se torna um dos motivos centrais de sua obra. A série A Guerra (1924), composta por cinquenta gravuras, é considerada a mais eloquente expressão anti-belicista já produzida por um artista. No célebre Vendedor de Fósforos (1920), por sua vez, Dix expõe, quase fotograficamente, o descaso dos passantes diante do sofrimento de um ex-soldado cego e paralítico. A produção dessa fase do artista constitui uma espécie de crónica ácida e indignada do ambiente alemão do período, o que vale a sua prisão em 1939 e a condenação de sua obra como arte degenerada. Não muito distinto é o andamento da trajectória e obra de G. Grosz. Marcado de perto pela experiência da 1ª Guerra Mundial, da qual participa como membro do exército alemão, Grosz produz caricaturas e ilustrações satíricas que denunciam, não apenas as tragédias da guerra, mas a sociedade e as classes dirigentes alemães. O tom explicitamente político de seus trabalhos se faz notar, entre outros, em A Face da Classe Dominante (1921) e Ecce Homo (1927). A guerra especificamente foi satiricamente tematizada em desenhos como Apto para o Serviço Activo (1918) - onde se vê um médico declarando um esqueleto apto para o serviço militar - e em diversas telas, por exemplo Funcionário do Estado para as Pensões dos Mutilados de Guerra (1921). Aí, vemos representada uma cena citadina, em que se cruzam operários, soldados e outros personagens e, em primeiro plano, um grotesco funcionário vesgo e gordo, protótipo da mediocridade burocrática. De sua galeria de personagens urbanos fazem parte ainda prostitutas e especuladores. A denúncia do militarismo e da sociedade alemã vale a Grosz uma série de processos e um auto exílio nos Estados Unidos, em 1933, momento em que sua obra inclina-se em outras direcções. Vale observar que tanto Dix como Grosz ligaram-se aos grupos dadaístas berlinenses, no início dos anos 20, tendo este último colaborado ainda com o teatro político de Erwin Piscator (1893-1966), em 1928. O pintor e artista gráfico Max Beckmann (1884-1950), que participa da exposição de 1925, teve algumas de suas obras classificadas como ligadas à Nova Objectividade, em função do acento realista e tom crítico. De qualquer modo, a maior parte de sua produção distancia-se do tipo de realismo defendido por Dix e Grosz, sobretudo em função da presença da alegorias e do simbolismo.

Se o impacto do expressionismo no Brasil pode ser aferido em épocas e obras variadas - por exemplo na produção de Anita Malfatti (1889-1964) dos anos 1915 e 1916, assim como nas obras de Oswaldo Goeldi (1895-1961), de Flávio de Carvalho (1899-1973) e de Iberê Camargo (1914-1994) -, a dimensão de crítica social e política da Nova Objectividade se evidencia sobretudo nos trabalhos de Lasar Segall (1891-1957). Nos anos de sua formação alemã, Segall conviveu de perto com O. Dix e G. Grosz. As afinidades da obra de Segall com o movimento da Nova Objectividade são enfatizadas por parte dos críticos: o sentimento de descrença diante da sociedade alemã e da guerra transparece em boa parte de suas pinturas e gravuras dos anos 20. Se isso é verdade, não se nota em seus trabalhos, aponta Rodrigo Naves, o tom de escárnio e ironia presente nos trabalhos dos artistas alemães.


Actualizado em 16/05/2005
fonte: Enciclopédia Itaú Cultural e Artes Visuais e www.arthistoryarchive.com

Kathe Kollwitz - Woman with Dead Child, 1903
George Grosz - Metropolis, 1917

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