No ano passado experimentei a vida profissional. Desloquei-me até ao Algarve na esperança de conseguir alguma experiência de trabalho, mais propriamente como funciona isto de ser arquitecto. Encontrei-me então com o jovem arquitecto Gonçalo Vargas que me mostrou um pouco da sua vida profissional. Muitos de vós devem-no conhecer pelo excelente projecto sustentável na Ilha Deserta, em Faro, o Restaurante Estaminé. Este espaço prima pela boa arquitectura sustentável e pela boa comida.
No decorrer desta experiência tive a sorte de conhecer um grande arquitecto português, embora um pouco esquecido, o arquitecto Gomes da Costa. Gomes da Costa tem muita obra edificada no Algarve, sendo que uma das mais conhecidas é o Edifício Tridente, em Faro. Nas idas ao seu ateliê tive oportunidade de folhear muitos dos seus projectos que me remetiam automaticamente para a obra modernista de Le Corbusier. Em todos eles se via uma simplicidade aparente nos traços que arquitectavam o espaço. Foi deveras uma arquitectura atraente que, por estar longe de Lisboa, não sentiu a pressão do Antigo Regime Salazarista. Nessa altura o arquitecto Gonçalo Vargas estava a fazer um levantamento da obra e da vida deste arquitecto tendo em vista a elaboração de uma exposição em sua homenagem. É com grande satisfação que vejo no site da OASRS, na secção notícias, que a inauguração da exposição está para breve e conta com uma visita guiada pelos arquitectos Ana Tostões e Gonçalo Vargas. Deixo-vos então o registo feito no site da Ordem dos Arquitectos da Secção Regional Sul.
A visita é guiada pelos arquitectos Ana Tostões e Gonçalo Vargas, comissários de uma exposição sobre Manuel Gomes da Costa, que deve ser inaugurada pela Delegação do Algarve em 2009.
Manuel Gomes da Costa, natural de Vila Real de Santo António, trabalhou em Tavira, Olhão, Aljezur e Faro – esta última a cidade onde, ao longo de décadas, desenvolveu grande parte da sua obra e onde se realiza esta visita, de participação livre, seguindo o figurino da iniciativa da Secção Regional Sul «Obra Aberta» – concebida pelo arquitecto Pedro Veríssimo e iniciada em 2003 com visitas guiadas a obras arquitectónicas da área da Grande Lisboa.
De acordo com José Manuel Fernandes (1), Gomes da Costa, juntamente com Manuel Laginha e Vicente de Castro, entre outros, são autores de origem algarvia que «deram às cidades onde se radicaram ou de onde eram naturais os primeiros e qualificados exemplos da chamada Arquitectura Moderna Internacional do pós-guerra efectivamente construídos no Algarve».
Estes arquitectos foram formados no Porto, «onde finalizaram estudos por via de um inconformismo com a ‘escola de Lisboa’» – que José Manuel Fernandes qualifica como «de orientação reaccionária e passadista».

Segundo refere, «desde inícios da década de 1950, quando a arquitectura de ‘gosto oficial’ ainda imperava, alguns talentosos e inconformados jovens arquitectos, naturais do Algarve, que em fins dos anos 1940 tinham concluído os estudos, começaram a sua prática dentro de uma linguagem completamente oposta à da arquitectura de iniciativa estatal» [o autor refere-se, no artigo, especificamente a arquitectos algarvios].
Refere José Manuel Fernandes que essa prática divergia da preconizada pelo Estado «quer na expressão plástica, moderna e tecnologicamente inovadora, quer na vontade política, socializante, internacionalista, de esquerda».
O autor enumera trabalhos de Manuel Gomes da Costa em Faro que traduziriam «a lenta afirmação de uma arquitectura francamente moderna» que correu a par da «arquitectura do Estado Novo», de interesse construtivo e urbanístico inegáveis mas «de linguagem retrógrada».
São os casos de duas obras de habitação unifamiliar: a moradia de Alfredo Gago Rosa (1955), na Rua General Humberto Delgado, 17, «com poderosa expressão plástica, por via de avarandados, pérgolas e grelhas na linha da influência da movimentada e espectacular arquitectura ‘brasileira’ da época»; e a residência e ateliê do próprio Gomes da Costa (1966), na Rua Reitor Teixeira Guedes, 42-44, que «evoca algo do jardim da casa japonesa e do minimalismo de Mies van der Rohe».

A estes podem juntar-se, «projectos de equipamentos, como o anexo do Colégio de Nossa Senhora do Alto, junto do Palacete Fialho (…), da década de 60, uma estrutura de betão de grande transparência e leveza», na saída de Faro para Olhão; ou de equipamentos de produção assistencial, já em Aljezur, como a antiga creche/centro de saúde da Misericórdia no bairro da Igreja Nova, em que Gomes da Costa participou com outros colegas.
José Manuel Fernandes lista, ainda, um conjunto de cinco imóveis em Tavira e a moradia de férias de Gomes da Costa na marginal de Vila Real de Santo António, «que segue o seu melhor desenho de tradição moderna, com um painel de mosaicos a preto e branco na fachada».
Refere igualmente obras mais recentes em Faro, «em muitos casos prédios de habitação colectiva fruto de empreendimentos privados ligados ao processo de renovação urbana»: o ‘Quarteirão Branco’ na Avenida 5 de Outubro, Rua da Alameda, Rua Dr. Manuel de Arriaga (1987); a urbanização Moutinho (década de 1990) e a ágora e praça de Ossónoba (2001).
(1) Fernandes, José Manuel, «De Jorge Oliveira a Gomes da Costa. Dois autores e duas concepções da arquitectura no século XX em Faro», revista Monumentos 24, Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, Março 2006, pp. 140-147 "
in OASRS | Notícias
16 Agosto
15h
Visita guiada a obras de Manuel Gomes da Costa
Ciclo «Obra Aberta»
Ponto de encontro: Capela do Alto de Santo António, Faro
Participação gratuita
Limite de inscrições: 60 pessoas
Confirmação das inscrições deve ser feita por e-mail: algarve.oasrs@gmail.com
Informações:
Delegação do Algarve
Rua da Trindade, 1 B, Faro
Tel.: 289 822 700 (quartas e quintas-feiras 9h-12h, 15h-19h)
Fax: 289 822 700
E-mail: algarve.oasrs@gmail.com
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