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31 de julho de 2009

Estão abertas as hostilidades!


Esta foi a gota de água! Para quem está na EUVG já a 4 anos, e para quem é um dos melhores alunos daquela escola, nunca pensei que algo como isto pudesse acontecer. Num post anterior, dores de cabeça e falta de apetite, tinha expressado a minha vontade de sair da EUVG. Muitos colegas meus, depois de terem lido o meu blog, felicitaram-me pela coragem mas tentaram demover da minha intenção. Agora é mais que óbvio! A partir deste momento não vou poder continuar a minha vida académica na EUVG, não por ter uma relação má com todos os professores, ou por os achar incompetentes, muito pelo contrário. Até hoje, sempre achei que tive os melhores professores que poderia ter, uns marcaram-me mais outros menos, mas eles ensinaram-me bastante e sei que tenho uma boa relação com eles. Mas nem tudo é um mar de rosas e, como em qualquer lado, há sempre uma “ovelha negra”… Até ao meu 2º ano tive uma, a Professora Maria José Castro, ela leccionava as cadeiras de Ecologia I, II e III, salvo o erro. Sendo uma bióloga, nunca conseguiu relacionar a Arquitectura com a Ecologia, por muita pena minha, já que poderíamos falar mais vezes da GRANDE PALAVRA DA MODA, a sustentabilidade. A verdade é que não aprendi nada de novo, pelo menos muito pouco, isto porque, ao contrário dos meus colegas eu vim do curso de ciências do liceu. Como tal, estava a anos de luz dos meus colegas. Mas… como em todo o lado, há quem goste de sorrisos falsos e de conversas triviais ou que simplesmente decide a avaliação escolar de aluno pela sua cara. Ou seja, há, infelizmente, quem dê valor às aparências do que ao trabalho feito. Foi isso que aconteceu a Ecologia, com a minha professora da altura Maria José Castro. Senti-me lesado pela avaliação feita e recorri. Na altura ganhei e subi umas míseras décimas, o que não adiantou de nada, até que voltei a fazer o exame, que por sinal era igual ao anterior e respondi exactamente da mesma maneira. E lá tive um 13 ou 14. O que até foi minimamente justo, sempre foi melhor do que ter o tal 5 da avaliação anterior. Bom, a verdade é que já algum tempo se passou e depois das minhas queixas muitos colegas se juntaram, até que por fim a escola teve o bom senso de a dispensar.
Foi esse o último ano da professora Maria José Castro na Vasco da Gama e que aparece o artista/escultor Daniel Gamelas. O nosso antigo professor de Desenho I e II era uma pessoa de bem e ensinou-nos muito, quer na prática quer na teórica. Na altura pensava que ele falava demais mas agora dou valor ao que ele dizia. Com a maturidade que hoje tenho entendo a importância das chamadas “secas”. Até aqui tudo bem, deixei a Ecologia III que mudou de nome e de ano, devido a Bolonha, que passou a chamar-se Ecologia Urbana, penso eu. Como essa cadeira mudou para o 5º ano e eu, estando no 3º, deixei-a ficar para mais tarde. O meu 3º ano foi um ano muito complicado, com a reforma de Bolonha tivemos uma carga horária sem precedentes, penso que cheguei a ter 12 cadeiras semestrais, em que claro, mais de metade eram práticas e rondavam as 4-6 horas por aula, ou seja, podiam chegar a 12 horas semanais. Foi nessa altura que ainda não se sabia bem o que era Bolonha, como funcionava, quais eram as regras. Na EUVG, foi tudo feito à pressa e em cima do joelho, e não informaram os alunos, pelo menos informavam mal. Tal foi a confusão que se chegou a convocar reuniões entre alunos e docentes para esclarecimentos. Mesmo assim tudo se resolveu, fiz-me de forte e lá fiz tudo, menos Desenho V.
Foi no meu 3º ano, o ano das muitas mudanças, que apareceram muitas caras novas. As caras novas foram aparecendo e as caras velhas, professores já com “cabelos brancos” foram desaparecendo. Até hoje ainda não sei bem porque, pareciam ser capazes de dar aulas durante mais uns anos…. Com essas caras novas vieram professores jovens e cheios de vontade de dar aulas, de ensinar coisas novas, de quebrar regras e de criar algo de mágico e progressista, o que me agradou bastante. É nessa altura que Desenho V começou a ser dado pelo professor Daniel Gamelas, um escultor que começou a “dar nas vistas” em 2006, embora tenha trabalhos mais antigos, de 2003.
Voltando a ideia inicial e resumindo, eu estava em Bolonha com muitas cadeiras para fazer. Arregacei as mangas e pus-me ao trabalho. De facto era muito trabalho e sempre existiu aquela pressão de ter de fazer tudo, uma vez que estava numa privada e como tal não podia dar-me ao luxo de deixar cadeiras, pois traria uma despesa acrescida. Todos os professores tomaram consciência do excesso de trabalho à excepção do professor Daniel Gamelas. Desde do início que encarou a sua cadeira como o “cadeirão” do curso, o que não cabe na cabeça de ninguém. Se estamos em Arquitectura, todos nós sabemos que o “cadeirão” é atelier (projecto).
Com o desgaste, vi que tinha, forçosamente, de largar pelo menos uma cadeira e, para mal dos meus pecados, deixei Desenho V. Nesse 3º ano, o professor Daniel nunca entendeu as nossas dificuldades e mandavam excessivos trabalhos de casa que entravam em conflito de forma directa com as cadeiras principais do curso: Atelier, Tecnologias e Ordenamento do Território. Na altura expliquei-lhe que não ia puder ir mais às aulas de Desenho V, uma vez que sendo eu um bom aluno, não queria fazer simplesmente a cadeira e disse-lhe que a faria para o ano. Desse modo iria fazer de “alma e coração” a cadeira, dando o máximo do meu esforço. Mesmo tendo dito directamente que não queira fazer a cadeira tive um 8. Como já estávamos em Bolonha já não pude ir a exame final mas pude ir ao exame de finalista. Os exames de finalista aparecem no final de cada ciclo, do 1º ao 3º ano estamos no 1º ciclo que nos dá a licenciatura e o 4º e 5º são do 2º ciclo e dá-nos o mestrado. Fui então ao exame de finalista na esperança de conseguir passar, pois queria muito ter a licenciatura e assim inscrever-me no 2º ciclo. Nesse exame o professor Daniel Gamelas fez de tudo para me convencer a desistir e para ir às aulas no próximo ano, ou seja este. Eu, na boa fé, concordei e decidi ir. Tendo mais tempo livre, fiz sempre todos os trabalhos mas sempre que começava a evoluir no desenho era puxado para trás. Nunca me senti tão preso e desapoiado como a Desenho V. As condições das aulas foram condicionadas pelo horário de Inverno. O frio e a noite não ajudaram, sempre foram contras para a prática do desenho. Mais uma vez não entendo porque razão o Desenho V, sendo último e o mais importante das cadeiras de Desenho não teve um horário melhor, como por exemplo à tarde. Mesmo assim fiz o melhor que pude e não desisti. Agora tinha mais 2 colegas comigo, o Pedro Banaco, um profissional que tem a sua própria empresa no ramo da arquitectura e com provas dadas e o Oliver Tatarka, estudante de Erasmus.
Para grande surpresa minha, mesmo com provas dadas, voltei a chumbar, agora com 9. Apenas o Oliver conseguiu… Fui proposto a exame final mas não pude ir. Isto tudo no 1º Semestre do meu 4º ano. No Semestre seguinte aproveitei para desenhar todos os dias. Treinei, treinei, treinei muito. Levei sempre um caderno para desenhar tudo que via. Foi à noite, foi à tarde, tirava um tempinho sempre que podia, tirava o meu A2 e desenhava. Este trabalho todo deu-me a segurança que já tinha perdido, voltei acreditar que sabia desenhar e que era bom. Vi exemplos de outros artistas e fui aprendendo por conta própria. Senti que voltei a saber desenhar. Isto deu-me força para continuar. A minha vida este 2º Semestre foi, basicamente, dedicada apenas ao desenho, daí ter perdido 2 cadeiras que para mim eram acessíveis e importantes, mas simplesmente não eram mais importantes para mim naquele momento como era Desenho V. É provável que já esteja arrependido… Sempre que vinha das aulas punha-me a desenhar. Foram muitos os fins-de-semana que fiquei por cá (Coimbra) a desenhar. Deixei de ver a minha família e os meus amigos durante muito tempo. Como sou de Castelo Branco era-me difícil ir tantas vezes a correr. Uma vez mais, estudo numa privada e todos os tostões são importantes e claro a formação académica. Cheguei a ir muitas vezes desenhar na rua, ao frio ao relento, onde as condições são péssimas, ou porque o tempo não ajuda, ou porque o espaço não é confortável. Mas não desisti! Faltava 1 mês para o exame de recurso a Desenho V e eu, em plenos exames finais, fui todos os dias desse mês para a escola desenhar. Muitos me viram, inclusive professores. Perguntavam-me o que estava ali a fazer e eu respondia: Eu estou a treinar para Desenho V porque quero mesmo fazer aquela cadeira. Todos me felicitaram e acharam que fazia bem mas sei que nenhum deles era capaz de ter feito o mesmo, nem mesmo os meus professores. É possível que tivessem vergonha de estar ali horas e horas a desenhar, sempre a mesma coisa, ou simplesmente não teriam vontade (preguiça) mas eu não me importei! Já ninguém estranhava ver um rapaz a desenhar nos corredores da escola todos os dias, até mesmo os alunos de veterinária viam o meu trabalho e gostavam. Esta situação deu-me confiança e finalmente consegui ver o meu valor, já há muito esquecido. Voltei a fazer o exame…
Hoje… como quem diz ontem, porque não consegui dormir por causa da notícia, vi a nota de Desenho V. Após ter esperado 2 semanas, o que é ridículo sabendo que só somos 2 alunos a exame de recurso, vejo a nota, a dia 30, ontem, tive um mísero 7! Bem pior que a nota do semestre… Eu que melhorei bastante e tive um mísero 7…? Bem e agora o que fazer? Já passa das 7, às 10 horas vou a escola pedir revisão de prova. Vou perder tempo, dinheiro e ganhar cabelos brancos mas não vou desistir de fazer aquela cadeira. Eu tenho valor, tenho talento, não sou eu que o digo, são os outros, colegas, professores, amigos e desconhecidos. Posso não ser um desenhador de Belas Artes, nem sou mestre da New York Academy of Art, nem tenho pretensões de o ser, mas sou um aluno de arquitectura que quer e vai ser arquitecto e tudo fará para realizar esse sonho, venha quem vier!

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