Pelo levantamento que fiz, eis as citações do livro, Complexidades e Contradições em Arquitectura, que achei pertinentes. Agora vou ter de relacioná-las com o trabalho desenvolvido pelos Archigram.
Complexidade e contradição versus simplificação ou pitoresco
“ As Racionalizações em prol da simplificação, porém, ainda são correntes, embora haja mais subtis do que os argumentos usados anteriormente. São expansões do importante paradoxo de Mies van der Rohe, “menos é mais”. Paul Rudolph enunciou claramente as implicações do ponto de vista de Mies: “Nunca será possível resolver todos os problemas. (…) Na verdade, é uma característica do século XX que os arquitectos sejam altamente selectivos na determinação de quais problemas querem resolver. Mies, por exemplo, realiza edifícios maravilhosos simplesmente porque ignora muitos aspectos de um edifício. Se ele revolvesse mais problemas, seus edifícios seriam muitíssimo menos potentes.””
Ambiguidade
“Ambiguidade e tensão estão por toda a parte numa arquitectura de complexidade e contradição. A arquitectura é forma e substancia – abstracta e concreta -, e seu significado deriva de suas características interiores e de seu contexto particular. Um elemento arquitectónico é percebido como forma e estrutura, textura e material. Essas relações oscilantes, complexas e contraditórias, são a fonte da ambiguidade e da tensão arquitectónica. A conjugação “ou” com um ponto de interrogação pode geralmente descrever as relações ambíguas.”
“ A ambiguidade calculada de expressão baseia-se na confusão de experiencia, tal como se reflecte no programa arquitectural. Isso promove a supremacia da riqueza de significado sobre a clareza de significado. Como Empson admite, existe boa e má ambiguidade: “ [a ambiguidade] pode ser usada para acusar um poeta de alimentar opiniões nebulosas, em vez de louvar a complexidade da ordem em seu espírito.””
Níveis contraditórios: o fenómeno de “tanto… como” em arquitectura
“Essa série de “contudos” descreve uma arquitectura de contradição em vários níveis programáticos e estruturais. Nenhuma dessas contradições ordenadas representa uma busca de beleza, mas tampouco são, como paradoxos, fruto de capricho ou extravagância.”
“Até mesmo “ espaço fluente” passou a significar estar fora quando estamos dentro e dentro quando estamos fora, em vez de ambos ao mesmo tempo. Tais manifestações de articulação e clareza são estranhas a uma arquitectura de complexidade e contradição, a qual tende mais para incluir “tanto… como” em vez de excluir “ou…ou”.”
“ Uma arquitectura que inclui vários níveis de significado gera ambiguidade e tensão.”
“Exemplos que são bons e maus ao mesmo tempo talvez expliquem, de certa maneira, o comentário de Kahn: “ A arquitectura deve ter espaços ruins, assim como espaços bons”. A evidente irracionalidade de uma parte será justificada pela resultante racionalidade do todo, ou as características de uma parte serão ajustadas a bem do todo.”
“O duplo significado inerente ao fenómeno tanto… como pode envolver metamorfose, bem como contradição.”
“ (…) o observador se desloca em seu interior, de modo que o mesmo espaço muda de significado. Eis uma outra dimensão de “espaço, tempo e arquitectura” que envolve enfoque múltiplo.”
Níveis contraditórios (continuação): o elemento de duplo funcionamento
“ O edifício multifuncional (…) contém em seu todo escalas contrastantes de movimento além das funções complexas.”
“Todos esses projectos têm hierarquias complexas e contraditórias de escala e movimento, estrutura e espaço dentro de um todo. Essas construções são edifícios e pontes ao mesmo tempo. Numa escala mais vasta: uma represa é também uma ponte, o Loop em Chicago é uma fronteira assim como um sistema de circulação, e a rua de Kahn “quer ser um edifício”.”
“E reconhece as complexidades cambiantes de funções específicas diferenciando salas de modo geral por meio de uma hierarquia de dimensões e qualidades, qualificando-as como espaços subalternos e principais, espaços direccionais e não-direccionais e outras designações ais genéricas do que especificas.”
“Kahn, por implicação, questiona tal especialização rígida e tal funcionalismo limitado. Nesse contexto “forma evoca função”.”
“A ambiguidade válida promove a flexibilidade útil.”
“o elemento de duplo funcionamento tem sido usado com pouca frequência na arquitectura moderna. Ao contrario, esta encorajou a separação e a especialização em todas as escalas – tanto em materiais e estrutura quanto em programa e espaço.”
Acomodação e as limitações de ordem: o elemento convencional
“Mas Aalto, em contraste com Le Corbusier, quase parece criar a ordem a partir das inconsistências (…).”
“ As oposições circunstanciais e suas composições constituem, porém, o segredo de seu tipo de monumentalidade – que não é árida nem pomposa.”
“O plano a curto prazo, que adequadamente combina o velho e o novo, deve acompanhar o plano a longo prazo. A arquitectura é evolucionária, tanto quanto revolucionária. Como arte, reconhecerá o que é e o que deve ser, o imediato e o especulativo.”
“ O arquitecto deve aceitar os métodos e os elementos de que dispõe. Fracassa com frequncia quando tenta per se a busca de uma forma promissoramente nova e a pesquisa e técnicas promissoramente avançadas.”
“Finalmente, a padronização, à semelhança da convenção, pode ser uma outra manifestação da ordem forte.”
A contradição adaptada
“Além da distorção circunstancial, existem outras técnicas de adaptação. O recurso da adaptabilidade é um elemento em toda a arquitectura anónima que depende de uma forte ordem convencional. É usado para ajustar a ordem a circunstancias que lhe são contraditórias: tais circunstâncias são, com frequência, de natureza topográfica.”
“Na cidade de bera de estrada temos uma falsa complexidade; em Levittown, uma falsa simplicidade. Uma coisa é clara: dessa falsa consistência nunca se desenvolverão cidades. As cidades, assim como a arquitectura, são complexas e contraditórias.”
A contradição justaposta
“Por vezes, mudanças maciças de escala são verificadas em nossas cidades, mas elas costumam ser mais acidentais do que propositais, (…) que são perversões das hiperproximidades entre pequenas casas e grandiosas catedrais ou muralhas nas cidades medievais.”
O interior e o exterior
“A finalidade essencial do interior de um edifício consiste mais em encerrar do que em dirigir um espaço e em separar o interno do externo. Disse Kahn: “Um edifício é um porto de abrigo”. É uma antiga função da casa proteger e fornecer privacidade, tanto psicológica quanto física.”
“Um edifício pode incluir coisas dentro de coisas, assim como espaços dentro de espaços. E suas configurações interiores podem contrastar com o seu recipiente de outras formas, (…)”
“As restrições, contrastantes e tensões inerentes nesses espaços são talvez condizentes com a afirmação de Kahn de que “um edifício deve ter maus espaços e bons espaços”.”
“Até Le Corbusier escreveu: “O projecto desenvolve-se de dentro para fora; o exterior é o resultado do interior”.”
O compromisso para com o todo difícil
“A “forma grupal”contrasta com a outra categoria básica de Maki, a “megaforma”. O todo, que é dominado por relações hierárquicas das partes, mais do que pela natureza inflexiva inerente às partes, também pode ser uma característica da arquitectura complexa. A hierarquia está implícita numa arquitectura de muitos níveis de significado. Envolve configurações de configurações – as inter-relações de numerosas ordens de forças variáveis para se chegar à realização de um todo complexo.”
Pois é Daniel. Também acho muito difícil relacionar a Tese de Venturi com Archigram, que na verdade também é uma (outra) Tese.
ResponderEliminarA ideia do Venturi é, simplesmente, provar que a arquitectura moderna (em sentido lato, claro) já não depende de cânones (chamemos-lhe assim por agora) para ser de facto Arquitectura, podendo "desligar-se" de um conjunto de regras; e apropriar-se de outros universos "menos" disciplinares.
Ao contrário do que afirmas no teu Blog, Complexidades e Contradições é, porventura, um dos livros que mais alterações provocou na arquitectura após a revolução modernista; e as suas consequências são ainda bastante sentidas.
Julgo que o modo mais evidente de relacionar Venturi e Archigram seria, à primeira vista, abordar o tema da Cultura Popular; e para isso deverias, claro, pegar num outro livro do Venturi que contínua o Complexidades: Learning with Las Vegas.
Levo-te o livro na Terça.